segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ciclos em revista: A Construção de uma Outra Escola Possivel - Volume 1

O texto ciclos de formação: uma nova escola é necessaria e possivel de Jose Clovis de Azevedo publicado no livro ciclo em revista, foi trabalhado em sala de aula atraves de construção de cartazez e debates.



Compreende-se que a avaliação na ação educativa é o ponto das contradições. No sistema de ciclos são utilizados todos os instrumentos de avaliação, inclusive prova e testes, mas não se atribui nota ao aluno porque o objetivo não é medir nem fazer seleção. O grande objetivo é superar a escola tradicional de acordo com novas concepções de organização da escola, currículo, organização de ensino e avaliação. O educando não pode ser punido, por meio de retenção, pelo o que não aprendeu, a escola cidadã valoriza as aprendizagens adquiridas, assumindo e mobilizando as energias da teoria e da pratica acumuladas pelos que compõe a comunidade escolar para promover a aprendizagem continua.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Reinterpretando os ciclos de aprendizagem



Capitulo 2: Rompendo com a escola seriada: a formação e desenvolvimento do discurso da escola em ciclos no Brasil.


O autor Jefferson Mainardes no capitulo 2 de seu livro reinterpretando os ciclos de aprendizagem, nos mostra que o termo ciclo ao longo da historia da educação brasileira já podia ser lida por volta da década 1930, porem com outra idéia, somente em 1984 com a implementação do ciclo básico de alfabetização na rede de São Paulo, o ciclo teve essa idéia de não reprovação, com tudo tal política de não reprovação já estava em discussão desde a década de 1910.


O processo de formação da política de ciclos no Brasil se divide em 3 fases: o período dos antecedentes que se refere ao surgimento e organização da escola em ciclos (1918 – 84), o 2º diz respeito a emergência da política de ciclos (1980) e o ultimo é o processo de re-contextualização da política de ciclos (1990).

O que se compreende como a fase antecedente é a criação do discurso e a política de criticas a reprovação e as primeiras discussões sobre a promoção automática entre a CRO E CRP.

De acordo com pesquisas históricas a criação do discurso de não reprovação surgiu de acordo com a implementação da educação seriada no país.

A partir da década de 1950 e 1960 a discussão sobre a promoção automática aumentou e teve apoio do então presidente da republica Juscelino Kubtschek que queria reduzir o gasto publico, e também teve apoio do representante do CRO. Anésio Teixeira acreditando que a promoção automática reduziria as taxas de reprovação.

Apesar do debate intenso nesse período houve um desestímulo nas décadas de 1970 e 1980. Mesmo com esse esfriamento da discussão de ciclos e das políticas de não reprovação. Em 1982 na redemocratização o ciclo básico surgiu como uma grande inovação. Nesse ciclo básico a idéia da não reprovação esta presente alem de mais duas inovações como um maior tempo para aprendizagem e uma abordagem focalizada na criança.

Os ciclos no Brasil compreendem-se em dois tipos, os ciclos de aprendizagem e o de formação. As diferenças entre os dois são o ciclo de aprendizagem a organização dos alunos e das promoções se dá pela idade e a avaliação ocorre no final de um período de dois ou três anos. Enquanto os ciclos de formação se focam nos ciclos de desenvolvimento humano e geralmente não há reprovação no ensino fundamental. Já em 1996 com a nova LDB o regime de progressão continua foi aprovado e a partir de 1998 essa política vem sendo implementada nas redes municipais e estaduais.

Reflexão sobre o texto: Ao ler o texto percebo que as discussões e debates sobre a implementação do ciclo e da promoção automática vem desde muito tempo. Sendo assim não podemos desconsiderar as pesquisas e as experiências a cerca do assunto, porem mesmo com essas pesquisas ainda existem escolas e comunidades que rejeitam a implementação dos ciclos.

Ciclos de Formação: Uma Proposta Transformadora

No texto Ciclos de Formação: Uma Proposta Transformadora, nos capítulos 1º ciclos de formação o que significa e 2º qual o conflito entre a tradição e a transformação nas praticas docentes?, trabalhado em sala de aula na forma de confecção de cartazes e debates. Mostra-nos que o ciclo de formação traz uma nova concepção de escola nos quais crianças e adolescentes tem direito a uma aprendizagem formal de acordo com sua idade. Tendo pesquisas na sociedade para construção do planejamento escolar.


Tal planejamento é chamado complexo temático (tem como referencial o planejamento do ensino por “complexo” propostos por Pistrak, acrescendo das discussões por Paulo Freire quando trabalha sobre o tema gerador). Sua construção inicial foi na Escola Municipal Monte Cristo em Porto Alegre. O complexo temático propõe um rompimento com os conteúdos preestabelecidos da escola tradicional.

Só houve um estudo por parte dos professores sobre o ciclo de formação após uma publicação básica: no caderno nº 9 de dezembro de 2006. Essa publicação se dividiu em 2 partes: na primeira a proposta político educacional para organização do ensino e dos espaços tempos na escola municipal, na segunda parte traz o regimento escolar, conhecido na rede municipal como regimento referencia, pois é a partir dele que as escolas estudaram, organizaram e propuseram a mantenedora seu próprio regimento.

Cada fase da criança há um desenvolvimento como diz diversos pensadores como Vygotsky dentre outros.

Não somente há idade é considerada necessária para que a aprendizagem escolar ocorra mais também o contexto cultural de cada aluno, desta forma se propõe uma pesquisa sócio-antropológica para formação do currículo.

Para Wallon a escola ciclada deveria trabalhar com experiências, integração de atividades, diversidade, adaptação, orientação, e conhecimento das representações.

O conhecimento trabalhado na escola é uma pequena parte da realidade que é ensinada na escola.

O discurso central da aprendizagem é entre ela e o desenvolvimento.

A questão da zona proximal se diferencia de um estudante para o outro, sendo assim aluno de mesma idade podem ter desenvolvimentos diferentes.

A reprovação causa no aluno uma barreira psicológica emocional que prejudica a aprendizagem do aluno.

As escolas organizadas por ciclo de formação no período de 1994 a 2000 apresentavam espaços alternativos para favorecer a aprendizagem.

Essa escola não reduz o custo pelo menos no que diz respeito aos aspectos financeiros.

Podemos perceber que atualmente os ciclos de formação devem vir acompanhados de espaços alternativos de apoio à aprendizagem, pois como vimos no texto da autora Andréa Krug nas escolas municipais de Porto Alegre esses espaços de apoio a aprendizagem ajudam aos alunos a se desenvolverem livres em seus ritmos.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Escolaridade em Ciclos





Podemos ver abaixo algumas explanações de trechos do texto escolaridade em ciclos de Claudia Fernandes que foi trabalhado de forma de debate em sala de aula para melhor entendimento dos ciclos:


“As justificativas para a implantação dos ciclos eram semelhantes: o processo ensino aprendizagem deveria ser continuo e sem retrocessos e desenvolver-se por meio de metodologia que contemplasse esses princípios, sendo assim a avaliação deveria ser também um processo continuo”. (Pág. 27).

*Esse parágrafo nos mostra que o ciclo é algo continuo que não devem ter quebras e que tenha uma metodologia que se complemente ao passar de ano para que seja um processo completo, ao contrario os ciclos podem ser um fracasso. As escolas cicladas são bem diferentes, elas são divididas pelos anos, caso não aprenda o determinado para aquele ano fica reprovado.


“As diversas experiências existentes na tentativa de superação do fracasso escolar têm focado mais as mudanças nos sistemas de avaliação e promoção dos alunos do que em uma mudança mais ampla dos currículos, seja na organização do tempo e do espaço escolar, na seleção, na reorganização ou na seqüência de conteúdos”. (pág. 29).

* Essa passagem nos mostra que as tentativas de superação do fracasso escolar somente visam à avaliação e a promoção, não percebendo que para essa superação não basta que altere a avaliação e promoção, mas também amplifique o currículo de forma que possa melhorar a aprendizagem e que envolva mais o aluno, porem ainda não conseguimos nos livrar de antigas organizações, hábitos e concepções para que se possa acabar com o fracasso escolar


“Sendo a escola o lugar de perpetuação da cultura, dos saberes e dos valores de dada sociedade, não pode se eximir de tais compromissos e ser responsável pela exclusão, evasão e fracasso de seus alunos, pois, nesse caso, estará sendo incoerente com seus princípios e falhando em sua função social”. (pág. 33).

* No trecho referido podemos notar que a escola como é responsável pela promulgação da cultura e do conhecimento, a escola não pode deixar de se ausentar da culpa caso o aluno venha fracassar, ou seja, a escola é culpada em parte pela falha de seus alunos. Havendo a falha do aluno a escola falha no âmbito do seu papel perante a sociedade visto que ela é responsável pela perpetuação do conhecimento.


“Os ciclos permitem que todos os estudantes possam atingir os mesmos objetivos, mas com percursos diferenciados ao longo do tempo no ciclo”. (Pág. 43).

*Nesse trecho do texto a autora mostra que os ciclos permite uma aprendizagem de diversas formas no qual o aluno conseguira chegar no objetivo em seu tempo e de sua forma, sendo assim o aluno pode descobrir formas mais condizente com sua realidade e seu modo de pensar, diferentemente das escolas de hoje que o aluno tem um tempo exato para atingir os objetivo.


“Os elementos da cultura escolar estão inseridos em contexto e processos sociohistórico específicos” (Pág. 48).

*Cada escola por estar inserida em uma determinada região carrega em si um pouco da historia, dos costumes e tradições dessa sociedade, assim as formas de ensino podem variar de acordo com cada escola, porem muitas escolas ainda não utilizam a cultura do aluno para o ensino.


Entrevista




Diretora: Catia Alves


Professoras entrevistadas: Leci Estevam Ferreira
                                         Valesca Abdon Dantas

Entrevistadores: Aline do Vale
                          Izabelly Cristine
                          Joilton Lopes
                          Ronald Coelho



• Você pode falar um pouco sobre a concepção de educação de ciclos?

Leci: A proposta inicial do ciclo era que o aluno teria três anos para se alfabetizar e o professor seria o mesmo durante esse período, mas isso não aconteceu. O professor do 1º ano, não era o mesmo do 2º e do 3º, então um professor não dava seguimento ao trabalho do outro.

Valeska: Na verdade, o que mudou foi a nomenclatura, de série para ciclo. Porque os professores continuaram trabalhando de forma segmentada e o ciclo, na verdade requer um trabalho contínuo. Para que a criança consiga se alfabetizar é preciso a responsabilidade do professor, o desejo da criança e o apoio da família.
O aluno tem condições de se alfabetizar em um ano. O ciclo coloca três, para que todos os alunos consigam se alfabetizar. Pois muitos alunos não têm apoio, seja em casa, ou na própria escola, com professores descompromissados. Então um período maior para alfabetização vem para sanar essas dificuldades enfrentadas pelo aluno.



• Em que ano foi implementado o ciclo nessa escola?

Leci: Faz uns dez anos, no primeiro governo do Zito.



• Como a escola está organizando o ciclo?

Valeska: Aqui, nós trabalhamos com o 1º ciclo, ou seja, os três primeiros anos da alfabetização. Os demais anos são seriados.



• Se vocês pudessem escolher qual estrutura escolheriam: seriada ou ciclos? Por quê?

Leci: Eu prefiro a seriada.

Valeska: Eu prefiro o ciclo, porque a seriação pára os alunos com a reprovação. Isso vai desanimando a criança, pois ela se percebe grande para aquele espaço.
O ciclo permite que o aluno acompanhe os seus colegas e o professor tem um tempo maior para conseguir realizar o seu trabalho com sucesso.

Leci: Eu prefiro a seriação, porque os pais tinham mais interesse. Eles sabiam que se o filho não aprendesse iria ficar reprovado. Com os ciclos, eles deixaram a responsabilidade de lado, pois sabem que a criança vai passar para o próximo ano sabendo ou não os conteúdos.



• Qual foi a maior dificuldade dos professores com esse novo sistema?

Leci: No meu caso, eu tive várias dúvidas sobre como trabalhar, pois se muda a proposta, muda a forma de trabalhar. Nós não podemos trabalhar no ciclo da mesma forma que trabalhávamos na série. Então, eu fiz um curso de formação continuada para sanar essas minhas dificuldades.

Valeska: Se hoje nós trabalhamos com uma nova concepção de educação, é porque a sociedade se modificou. O modo como a criança pensa atualmente, não é igual ao modo como ela pensava anos atrás. Por isso, os professores estão tendo que se adaptar à novas metodologias. A forma de ensinar de antigamente não consegue atingir os alunos de hoje. O ciclo não foi implantado por modismo. Ele foi implantado para atender as exigências de uma nova sociedade.

Leci: O maior problema é que muitos de nós não estamos preparados para mudanças. O ciclo requer mais empenho e os professores não querem ter mais trabalho. Na concepção de ciclo, nós entendemos que numa mesma sala há alunos mais desenvolvidos que outros. Então, o professor tem que ter atividades diferenciadas para atender a todos. Na série o professor passa uma única atividade para a turma inteira. O que provoca as repetências, pois o aluno que está em um nível inferior não consegue acompanhar a atividade e o professor nada faz para que este indivíduo se desenvolva.



• Qual a visão que os pais têm da estrutura ciclada?

Leci: A maioria dos pais não gostam.

Valeska: Na verdade não conseguimos nem observar se eles gostam ou não. Eles são extremamente descompromissados. Os pais são ausentes, não vêm nas reuniões... Então, a gente nem passa muitas atividades de casa, pois sabemos que eles não dão apoio aos filhos.



• A escola tem algum projeto de reforço para os alunos? Se tiver, como funciona?

Valeska: Temos sim. Várias escolas têm no município de Caxias. Nós trabalhamos no Contra-turno com os alunos de 2º e 3º anos. Esse projeto está respaldado por lei. As escolas que trabalham com ciclo têm que ter uma sala de apoio a alfabetização.
A escola já faz esse trabalho de apoio a cinco anos. Mas cada ano que passa o negócio fica pior, pois os professores não têm um compromisso com a aprendizagem do seu aluno.
A sala de apoio tem que trabalhar junto com os professores, mas muitos não colaboram. As crianças estão chegando no 3º ano com pouco aprendizado. Os professores têm que fazer a parte deles, para eu, na sala de apoio, trabalhar as dificuldades do aluno.
Esse ano estou trabalhando com quatro grupos de 10 alunos. Não adianta colocar muitos alunos na sala de apoio. Porque se não fica como na sala regular, impossível de trabalhar.
O projeto funciona quatro dias por semana, segunda, terça, quarta e quinta. Sexta-Feira é o dia do planejamento. Cada grupo é atendido duas vezes por semana. Dois grupos na segunda e quarta e mais dois grupos terça e quinta. Um grupo das 13 às 15h e o outro das 15 às 17h.



• A escola promove reuniões para os professores discutirem seu trabalho?

Leci: Não. Antigamente tínhamos um grupo de estudo para trocar experiências. Hoje não temos, mas um professor procura o outro para tirar dúvidas. Acho que ano que vem as reuniões voltarão.



• Como é feita a avaliação dos alunos?

Leci: Relatórios. Fazemos observações, diagnosticando os avanços dos alunos.



• A escola aprova todos os alunos ou em algum momento há retenção?

Leci: Há retenção. No 3º ano do ciclo, quando os alunos não conseguem atingir os objetivos. Eles também podem ser reprovados caso tenham mais de 25% de faltas.



• Claudia Fernandes ressalta em sua pesquisa de doutorado sobre a organização da escolaridade em ciclos que “professores entendem que não mais precisam avaliar, alunos entendem que não mais precisam estudar e pais entendem que os filhos, se não são reprovados não estão aprendendo” como você vê esta afirmativa?

Valeska: Concordo. Realmente as coisas se processam desta maneira.
O que os pais não entendem é que nós avaliamos sim os alunos. Não é uma avaliação tradicional, que visa a reprovação. Mas é uma avaliação diagnóstica, que tem por objetivo identificar o desenvolvimento e as dificuldades do aluno.



Comentário da Entrevista

A entrevista nos mostra que o problema não é o ciclo como diversos professores, pais, alunos e comunidade dizem, mas sim a forma de que foi implementado. A implementação dos ciclos em Duque de Caxias foi igual a diversos outros municípios, sendo alterado e não havendo explicações sobre o ciclo para as escolas e professores, de forma que algumas professoras permanecerão com sua forma de trabalho, somente alterando a nomenclatura e retirando as provas, fazendo com que tenham uma visão errônea, de que o ciclo aprova sem que o aluno aprenda nada. Somente as professoras que realmente são interessadas procurarão cursos para se informar, para que pudesse ensinar conscientemente e não duvidosamente, de forma que seus alunos dessem certo e retirar essa impressão errônea do ciclo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Quando a Escola é de Vidro



Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.

Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...

Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chagava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro. É, no vidro!

Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!

O vidro dependia da classe em que a gente estudava.

Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho.

Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior.

E assim, os vidros iam crescendo á medida em que você ia passando de ano.

Se não passasse de ano era um horror.

Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado.

Coubesse ou não coubesse.

Aliás, nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros.

E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.

Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável.

Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, ás vezes até batiam no professor.


Ele ficava louco da vida e atarraxava a tampa com força, que era pra não sair mais.

A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava...

As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos.

Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabia nos vidros, se respiravam direito...

A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física.

Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.

As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio.

E na aula de educação física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinha jeito nenhum para Educação Física.

Dizem, nem sei se é verdade, que muitas meninas usavam vidros até em casa.

E alguns meninos também.

Estes eram os mais tristes de todos.

Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada á toa, uma tristeza!

Se agente reclamava?

Alguns reclamavam.

E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.

Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso que ela tinha boa postura.

Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade.

Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas.

Ou até coisa pior...

Tinha menino que tinha até de sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros.

E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.

Mas uma vez, veio para minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.

Aí não tinha vidro pra botar esse menino.


Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...

Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro.

O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...

E os professores não gostavam nada disso...

Afinal, o Firuli podia ser um mau exemplo pra nós...

E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até mesmo que gozava a cara da gente que vivia preso.

Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.

Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um.

Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:

- Se o Firuli pode por que é que nós não podemos?

Mas Dona Demência não era sopa.

Deu um coque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...

Já no outro dia a coisa tinha engrossado.

Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.

Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola.

Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado:

- Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo!

A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli.

E seu Hermenegildo não conversou mais.

Começou a pegar os meninos um por um e enfiar á força dentro dos vidros.

Mas nós estávamos loucos para sair também, e pra cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro - já tinha dois fora.

E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.



E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais:

Dona Demência já estava na janela gritando - SOCORRO! VÂNDALOS! BÀRBAROS!(pra ela bárbaro era xingação).

Chamem o Bombeiro, o exército da Salvação, a Polícia Feminina...

Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo.

E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6° série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros.

Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.

Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte.

Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria tudo de novo.

Então diante disso seu Hermenegildo pensou um pocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais.

E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.

Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:

- Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...

Seu Hermenegildo não se perturbou:

- Não tem importância. Agente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...

E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.

Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...


Ruth Rocha


O texto nos mostra uma escola que não se importa com a opinião do aluno, acham que a aprendizagem é uma fôrma de acordo com o ano estudado e vai aumentando somente com o passar de ano, e quando essa fôrma não era preenchida o aluno era retido, porem eles não viam que o aluno quando é retido continua a desenvolver o físico e intelectual, tendo o aluno que ver tudo novamente, até mesmo o que já havia aprendido, alem de que não havia uma comunicação clara, somente ouvindo e sendo ouvido o aluno que não foi dado o credito da aprendizagem, pois aprendia sem a dificuldade de estar na fôrma. Somente após uma grande revolta dos alunos e um grande prejuízo é que eles foram ouvidos havendo uma alteração na escola.
Essa fôrma que mencionei, podemos considerar como uma escola seriada, onde não se leva em conta tudo o que o aluno aprendeu, e sim leva em conta se alcançou o objetivo proposto. Sendo assim como já foi dito antes na escola de vidro se o aluno não se adaptar a sua fôrma ele fica retido.
Assim sendo quando se quebra tal fôrma o aluno pode aprender mais livremente, e assim se aproxima mais da escola ciclada, que respeita o aluno em seu tempo de desenvolvimento mental e físico. Levando em conta os textos trabalhados em aula.