sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Entrevista




Diretora: Catia Alves


Professoras entrevistadas: Leci Estevam Ferreira
                                         Valesca Abdon Dantas

Entrevistadores: Aline do Vale
                          Izabelly Cristine
                          Joilton Lopes
                          Ronald Coelho



• Você pode falar um pouco sobre a concepção de educação de ciclos?

Leci: A proposta inicial do ciclo era que o aluno teria três anos para se alfabetizar e o professor seria o mesmo durante esse período, mas isso não aconteceu. O professor do 1º ano, não era o mesmo do 2º e do 3º, então um professor não dava seguimento ao trabalho do outro.

Valeska: Na verdade, o que mudou foi a nomenclatura, de série para ciclo. Porque os professores continuaram trabalhando de forma segmentada e o ciclo, na verdade requer um trabalho contínuo. Para que a criança consiga se alfabetizar é preciso a responsabilidade do professor, o desejo da criança e o apoio da família.
O aluno tem condições de se alfabetizar em um ano. O ciclo coloca três, para que todos os alunos consigam se alfabetizar. Pois muitos alunos não têm apoio, seja em casa, ou na própria escola, com professores descompromissados. Então um período maior para alfabetização vem para sanar essas dificuldades enfrentadas pelo aluno.



• Em que ano foi implementado o ciclo nessa escola?

Leci: Faz uns dez anos, no primeiro governo do Zito.



• Como a escola está organizando o ciclo?

Valeska: Aqui, nós trabalhamos com o 1º ciclo, ou seja, os três primeiros anos da alfabetização. Os demais anos são seriados.



• Se vocês pudessem escolher qual estrutura escolheriam: seriada ou ciclos? Por quê?

Leci: Eu prefiro a seriada.

Valeska: Eu prefiro o ciclo, porque a seriação pára os alunos com a reprovação. Isso vai desanimando a criança, pois ela se percebe grande para aquele espaço.
O ciclo permite que o aluno acompanhe os seus colegas e o professor tem um tempo maior para conseguir realizar o seu trabalho com sucesso.

Leci: Eu prefiro a seriação, porque os pais tinham mais interesse. Eles sabiam que se o filho não aprendesse iria ficar reprovado. Com os ciclos, eles deixaram a responsabilidade de lado, pois sabem que a criança vai passar para o próximo ano sabendo ou não os conteúdos.



• Qual foi a maior dificuldade dos professores com esse novo sistema?

Leci: No meu caso, eu tive várias dúvidas sobre como trabalhar, pois se muda a proposta, muda a forma de trabalhar. Nós não podemos trabalhar no ciclo da mesma forma que trabalhávamos na série. Então, eu fiz um curso de formação continuada para sanar essas minhas dificuldades.

Valeska: Se hoje nós trabalhamos com uma nova concepção de educação, é porque a sociedade se modificou. O modo como a criança pensa atualmente, não é igual ao modo como ela pensava anos atrás. Por isso, os professores estão tendo que se adaptar à novas metodologias. A forma de ensinar de antigamente não consegue atingir os alunos de hoje. O ciclo não foi implantado por modismo. Ele foi implantado para atender as exigências de uma nova sociedade.

Leci: O maior problema é que muitos de nós não estamos preparados para mudanças. O ciclo requer mais empenho e os professores não querem ter mais trabalho. Na concepção de ciclo, nós entendemos que numa mesma sala há alunos mais desenvolvidos que outros. Então, o professor tem que ter atividades diferenciadas para atender a todos. Na série o professor passa uma única atividade para a turma inteira. O que provoca as repetências, pois o aluno que está em um nível inferior não consegue acompanhar a atividade e o professor nada faz para que este indivíduo se desenvolva.



• Qual a visão que os pais têm da estrutura ciclada?

Leci: A maioria dos pais não gostam.

Valeska: Na verdade não conseguimos nem observar se eles gostam ou não. Eles são extremamente descompromissados. Os pais são ausentes, não vêm nas reuniões... Então, a gente nem passa muitas atividades de casa, pois sabemos que eles não dão apoio aos filhos.



• A escola tem algum projeto de reforço para os alunos? Se tiver, como funciona?

Valeska: Temos sim. Várias escolas têm no município de Caxias. Nós trabalhamos no Contra-turno com os alunos de 2º e 3º anos. Esse projeto está respaldado por lei. As escolas que trabalham com ciclo têm que ter uma sala de apoio a alfabetização.
A escola já faz esse trabalho de apoio a cinco anos. Mas cada ano que passa o negócio fica pior, pois os professores não têm um compromisso com a aprendizagem do seu aluno.
A sala de apoio tem que trabalhar junto com os professores, mas muitos não colaboram. As crianças estão chegando no 3º ano com pouco aprendizado. Os professores têm que fazer a parte deles, para eu, na sala de apoio, trabalhar as dificuldades do aluno.
Esse ano estou trabalhando com quatro grupos de 10 alunos. Não adianta colocar muitos alunos na sala de apoio. Porque se não fica como na sala regular, impossível de trabalhar.
O projeto funciona quatro dias por semana, segunda, terça, quarta e quinta. Sexta-Feira é o dia do planejamento. Cada grupo é atendido duas vezes por semana. Dois grupos na segunda e quarta e mais dois grupos terça e quinta. Um grupo das 13 às 15h e o outro das 15 às 17h.



• A escola promove reuniões para os professores discutirem seu trabalho?

Leci: Não. Antigamente tínhamos um grupo de estudo para trocar experiências. Hoje não temos, mas um professor procura o outro para tirar dúvidas. Acho que ano que vem as reuniões voltarão.



• Como é feita a avaliação dos alunos?

Leci: Relatórios. Fazemos observações, diagnosticando os avanços dos alunos.



• A escola aprova todos os alunos ou em algum momento há retenção?

Leci: Há retenção. No 3º ano do ciclo, quando os alunos não conseguem atingir os objetivos. Eles também podem ser reprovados caso tenham mais de 25% de faltas.



• Claudia Fernandes ressalta em sua pesquisa de doutorado sobre a organização da escolaridade em ciclos que “professores entendem que não mais precisam avaliar, alunos entendem que não mais precisam estudar e pais entendem que os filhos, se não são reprovados não estão aprendendo” como você vê esta afirmativa?

Valeska: Concordo. Realmente as coisas se processam desta maneira.
O que os pais não entendem é que nós avaliamos sim os alunos. Não é uma avaliação tradicional, que visa a reprovação. Mas é uma avaliação diagnóstica, que tem por objetivo identificar o desenvolvimento e as dificuldades do aluno.



Comentário da Entrevista

A entrevista nos mostra que o problema não é o ciclo como diversos professores, pais, alunos e comunidade dizem, mas sim a forma de que foi implementado. A implementação dos ciclos em Duque de Caxias foi igual a diversos outros municípios, sendo alterado e não havendo explicações sobre o ciclo para as escolas e professores, de forma que algumas professoras permanecerão com sua forma de trabalho, somente alterando a nomenclatura e retirando as provas, fazendo com que tenham uma visão errônea, de que o ciclo aprova sem que o aluno aprenda nada. Somente as professoras que realmente são interessadas procurarão cursos para se informar, para que pudesse ensinar conscientemente e não duvidosamente, de forma que seus alunos dessem certo e retirar essa impressão errônea do ciclo.

Um comentário:

  1. Conforme comentei no blog do Joilton, a entrevista ficou muito boa. As professoras foram bastante colaborativas e apresentaram, de forma muito espontânea, as visões delas... Porém, senti falta da "Aline" comentando a entrevista... O que achou? Que dados emergem das falas das professoras sobre os ciclos? O que você considerou sobre cada uma das respostas? A partir da entrevista, como você considera a implantação e implementação do ciclo em Duque de Caxias? Que relações podem ser feitas com os referenciais teóricos estudados e discutidos em nossas aulas? Pense a respeito e procure acrescentar estas reflexões... Lembre-se de que o portfólio deve retratar o processo de pensamento (reflexão) de cada um de vocês, evidenciando, assim, as suas aprendizagens sobre os temas discutidos.Ok?

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